Dentro do labirinto de ruas estreitas em Roma está um dos edifícios mais renomados na história da arquitetura. Construído no auge do poder e riqueza do Império Romano, o Panteão Romano é enaltecido e estudado pela imensidão de sua cúpula como por sua geometria celeste há mais de dois milênios. Durante este tempo tem sido objeto de inúmeras imitações e referências como legado arquitetônico duradouro de uma das épocas mais influentes do mundo.
O Panteão, na Piazza della Rotonda, é a terceira estrutura desse tipo a ocupar o terreno. O Panteão original foi encomendado por Marcus Agrippa, genro do imperador César Augusto, no ano 27 AC. Depois de um incêndio ter destruído grande parte da construção original de Agripa no ano 80, o imperador Domitian realizou um esforço de reconstrução (cuja extensão exata permanece desconhecida). No entanto, quando um raio queimou o Panteão mais uma vez em 110, a estrutura que o Imperador Adriano colocou no seu lugar teve um projeto inteiramente novo. [1]
O reinado de Adriano representou, sem dúvidas, a grande "Era de Ouro" do Império Romano. Abrangendo do Oceano Atlântico no oeste ao Mar Cáspio sem litoral no leste, o território do Império abarcou as partes sul e oeste da Europa, o norte da África, e uma faixa considerável do oeste da Ásia - o mais distante que suas bordas alcançariam. Foi também o período economicamente mais próspero da história romana, com uma estabilidade regional sem precedentes que permitiu o comércio livre através das várias províncias. As muitas cidades do Império passaram por programas expansivos de construção, trazendo banhos públicos, fóruns, teatros e circos para cidadãos em três continentes. Em tal era de paz e prosperidade, quando toda Roma parecia estar sob um controle harmonioso, era justo que um monumento fosse construído na capital para representar esse estado ideal das coisas. [2]
Formalmente, o Panteão é surpreendente na sua simplicidade. Constitui-se de um grande tambor coberto por uma cúpula, com sua entrada virada para o norte, demarcada por um pórtico. Dentro do tambor há um único espaço cavernoso, com luz natural que se derrama de um óculo de 9 metros de largura sobre altares triangulares e arredondados alternados que marcam o perímetro da sala. O chão e as paredes do interior são revestidas com pedra fina proveniente de todo o Império Romano, incluindo granito e vários mármores coloridos; O teto é de concreto aparente. [3] Esta cúpula foi a maior do mundo por um período significativo, um superlativo que manteria até a construção da maravilha de engenharia de Brunelleschi em Santa Maria del Fiore, Florença, em 1436, treze séculos mais tarde. [4]
Permitindo essa geometria aparentemente simplista estava um elaborado sistema estrutural, o culminar de décadas de progresso na tecnologia de engenharia romana. As paredes de 6 metros de espessura da base cilíndrica, enquanto aparentam serem monolíticas do exterior, escondem uma rede cuidadosamente planejada de vazios e arcos que atuam como oito pilares que suportam o peso da cúpula acima. A própria cúpula também foi tornada possível pela inovação material romana do concreto. As abóbadas de concreto foram usadas com grande efeito em várias estruturas durante o reinado do predecessor de Adriano (e pai adotivo) Trajano, estabelecendo o quadro teórico para a construção do domo do Panteão. Aqui, ao contrário das paredes, a solução estrutural é claramente visível: as cinco linhas horizontais de caixotões, chamados de cofres, que, além de serem esteticamente atraentes, reduzem a quantidade de concreto utilizado e, consequentemente, do peso morto da cúpula entre seus membros estruturais, limitando o esforço colocado sobre os arcos escondidos dentro das paredes da rotunda. [5,6]
O planejamento cuidadosamente premeditado da base cilíndrica ironicamente contrasta com o pórtico relativamente desarticulado. Ao invés de unir-se diretamente à rotunda, o frontão conecta-se a um bloco de transição retangular, que apresenta o contorno de um frontão em uma elevação maior do que a que coroa o pórtico. Este desalinhamento aparente levou vários arquitetos a hipotetizarem, ao longo dos séculos, que o pórtico e a rotunda tenham sido construídos em épocas separadas por diferentes imperadores. O exame das fundações e carimbos sobre os tijolos utilizados na estrutura, no entanto, indicam que todo o Panteão foi construído como um projeto coeso. [7]
O desajuste do pórtico e da rotunda foi o resultado de problemas logísticos na aquisição de pedras no tamanho especificado pelos construtores do Panteão. Um frontão na altura indicada pelo contorno do bloco de transição exigiria colunas mais altas e mais grossas do que as usadas no templo. Contudo, ao contrário dessas colunas menores, o projeto original hipotético se conformaria perfeitamente às proporções estabelecidas usadas na arquitetura romana religiosa. A linha de cornija do telhado também se conectaria à linha de cornija central que circunda a rotunda, enquanto o telhado existente não parece se relacionar com qualquer parte da estrutura. Apesar do poder financeiro absoluto do império de Adriano, no entanto, os materiais adequados não puderam ser extraídos tanto para o Panteão como para o Templo de Trajano, que estava sendo construído simultaneamente. Adriano precisou comprometer-se a acelerar a construção deste último edifício. [8]
As proporções desajeitadas do pórtico não diminuem o impacto - ou o significado - do vasto espaço encerrado dentro da base cilíndrica. O diâmetro do interior é quase exatamente igual à sua altura: 43,4 metros (142,4 pés). Combinado com o volume hemisférico expresso dentro da cúpula, o espaço circunscreve uma esfera perfeita. [9]
As implicações cósmicas desta geometria são claras: a esfera era uma analogia para os céus, tudo contido nas paredes de concreto do Panteão. No ponto mais alto do céu (neste caso, o óculo) brilha a luz do sol, lançando seus feixes sobre as várias estátuas de divindades planetárias que ocupavam os nichos nas paredes. Enquanto os deuses e os céus foram honrados neste projeto simbólico, no entanto, foi o próprio Império Romano que foi verdadeiramente glorificado. O cosmos encarnado e cercado pelo Panteão representava o Império, suas terras e povos díspares unidos pela autoridade celestial e perfeição de Roma. Seu nome pode implicar a consagração religiosa, mas o panteão era verdadeiramente um testamento à força e à glória de um governo mundano. [10]
Como um símbolo do Império, o Panteão foi submetido a uma série de indignidades quando Roma iniciou seu declínio lento ao longo dos séculos seguintes. No início do século VII o Imperador Constâncio II, do Império Romano Oriental, visitou Roma e oficialmente concedeu o Panteão ao Papa Bonifácio IV para uso como uma igreja; Antes de fazê-lo, no entanto, ele tomou as telhas de bronze douradas que cobriam o telhado da cúpula para seu próprio uso. Conhecida como a Igreja de Santa Maria dos Mártires, o Panteão teve seu telhado de ouro substituído por um de chumbo. Dois séculos mais tarde, o Papa Urbano VIII ordenou a remoção de várias grandes vigas de bronze do pórtico para uso no dossel do altar de Bernini na Basílica de São Pedro, bem como para canhões no Castel Sant'Angelo (a residência fortificada romana do Papa). Como um gesto de consolação, Urbano encomendou um par de campanários para serem acrescentados acima do pórtico; estas torres foram consideradas feias e fora de lugar, e acabaram removidas no século 19. [11]
Talvez graças à sua reorientação como uma igreja, o Panteão é um dos monumentos mais bem preservados da Roma antiga. Sua célebre cúpula continua a ser a maior do mundo a ser construída a partir de concreto não reforçado e, apesar da adição de altares cristãos e afrescos, seu projeto permanece, em grande parte, o mesmo que sob o governo de Adriano. Sua forma tem servido de inspiração para um cânone inteiro de edifícios desde o Renascimento, entre eles o Panthéon em Paris, a cúpula de Santa Maria del Fiore, a Biblioteca da Universidade de Virginia e o Memorial Jefferson em Washington, DC. [12, 13, 14] Entre seu legado arquitetônico e sua própria resistência, o Panteão é um testamento duradouro das glórias desbotadas do Império Romano - um monumento tão eterno quanto a cidade em que se encontra.
Referências
[1] Marder, Tod A., and Mark Wilson Jones. The Pantheon: from Antiquity to the Present. New York, NY: Cambridge University Press, 2015. E-book.
[2] Kostof, Spiro. A History of Architecture: Settings and Rituals. New York: Oxford University Press, 1985. p217-219.
[3] Platner, Samuel Ball, and Thomas Ashby. A Topographical Dictionary of Ancient Rome. London: Oxford University Press, H. Milford, 1929. p382-386.
[4] "Pantheon Rome." Pantheon Paris. Accessed December 20, 2016. [acesso].
[5] Lancaster, Lynne C. Concrete Vaulted Construction in Imperial Rome: Innovations in Context. Cambridge, UK: Cambridge University Press, 2005. p97-98.
[6] Cowan, Henry J., and Trevor Howells. A Guide to the World's Greatest Buildings: Masterpieces of Architecture & Engineering. San Francisco, 2000: Fog City Press. p24.
[7] Jones, Mark Wilson. Principles of Roman Architecture. New Haven, CT: Yale University Press, 2000. p200-202.
[8] Jones, p204-210.
[9] Stamper, John W. The Architecture of Roman Temples: The Republic to the Middle Empire. Cambridge, U.K.: Cambridge University Press, 2005. p196.
[10] Kostof, p218.
[11] Papandrea, James Leonard. Rome: A Pilgrim's Guide to the Eternal City. Eugene: Cascade Books, 2012. p34-35.
[12] “Pantheon Rome.”
[13] King, Ross. Brunelleschi's Dome. London: Chatto & Windu, 2000.
[14] Fiederer, Luke. "AD Classics: University of Virginia / Thomas Jefferson." ArchDaily. December 08, 2016. [acesso].